quarta-feira, 8 de junho de 2011

O processo

Querida Norma,

As coisas estão acontecendo ao meu redor, o mundo está acontecendo a minha volta mas eu não estou acontecendo e não faço ideia de como ficar confortável na platéia.

Sinto que desde que nasci venho fazendo coisas que estão no script: ser criança, brincar, estudar, crescer, ser adolescente, amadurecer, descobrir, amar, namorar, estudar mais, me formar. Acontece que, com minha impulsivdade, que talvez nem minha mãe que me fez tenha previsto, arrumei tempo para respirar problematizando. A vida toda problematizando. É o meu modo de respirar ser uma pessoa só, por mais estranho que isso pareça. Norma, e o tanto que problematizei, você sabe (risos). Acontece que...não está acontecendo mais, nada mais. Parece que pararam de escrever - assim como eu estou a meses sofrendo por falta de inspiração. Sim, porque eu sei que não sou eu quem escreve nada sobre a minha vida, não antes das coisas acontecerem, não a previsão dela. Acho que nós, os próprios, não escrevemos, você sente isso ou é daquelas que pensam escrever seu próprio destino? Não, eu não acho assim. Não tenho como respirar Norma, não tenho, porque me sinto expirando sem fim e isso é diferente de se sentir sufocada, o que me aflige ainda mais pois nem sobre esse sentimento de “desacontecer” eu posso problematizar: não é sufocante, não é alguma coisa, é simplesmente o “processo”. 

Com saudade,
Mayara.

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